RETORNO A ITACA – Retour à Ithaque
Opinião
Retorno a Ítaca, que ganhou menção honrosa na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2014, é um filme simples, de praticamente um só cenário, estilo teatral. Seu grande trunfo são os diálogos entre esse grupo de amigos, que se reúne para rever um velho colega que se exilou na Espanha há 16 anos, enquanto que todos os outros permaneceram em Cuba e sofreram as privações do regime comunista.
Velhos amigos que se encontram depois de longa data, quando suas vidas já tomaram, há tempos, rumos bem diferentes, e o reencontro traz sombras e risadas do passado à tona, é tema de muitos outros filmes. O ícone é Invasões Bárbaras, do canadense Denys Arcand, seguido dos franceses Até a Eternidade e Bonecas Russas, do italiano Saturno em Oposição e do brasileiro Entre Nós. São filmes que despertam emoções, alguns lugares comuns porque, afinal de contas, as histórias se repetem, e muita identificação – não tem como não nos imaginarmos em algumas das cenas.
A oftalmo que não consegue se sustentar com a profissão, o engenheiro que trabalha como técnico com peças roubadas, o pintor alcoólatra, o trambiqueiro. Quando chega Amadeo, o escritor, todos trazem suas mágoas, fazem as perguntas que não foram feitas no passado e procuram lavar a alma – ou a roupa suja. Pra quem curte filmes em que os personagens vão crescendo, ganhando corpo e identidade aos poucos, é muito bacana ver como as questões sociais, políticas e privadas estão entrelaçadas com o rumo que Cuba tomou.
Diretor do ótimo Entre os Muros da Escola (que levou a Palma de Ouro em 2008), de 7 Dias em Havana e de Foxfire – Confissões de uma Gangue de Garotas, Laurent Cantet cria um microcosmos para falar do todo. Mas só vai curtir quem gosta dessa câmera fechada e dessa densidade de diálogos.
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