SE NÃO NÓS, QUEM? – Wer wenn nicht wir

Cartaz do filme SE NÃO NÓS, QUEM? – Wer wenn nicht wir

Opinião

Se não os jovens, quem mais iria ganhar as ruas e protestar contra a Guerra do Vietnã, o imperialismo americano, o governo de ultradireita, as ditaduras, o capitalismo de uma forma geral? Se não os jovens, quem mais iria se armar até os dentes, praticar atentados terroristas, viver na clandestinidade por um mundo sem injustiças sociais, na linha do que queriam os comunistas no mundo todo? Se não os jovens alemães, que formavam a geração nascida após o fim da Segunda Guerra, quem mais seria capaz de contestar o poder, as barbaridades no nazismo e a conivência ou não dos parentes durante o regime de Hitler?

Se Não Nós, Quem? faz um recorte do fim dos anos 1960 e começo de 70, exatamente a mesma época retratada em O Grupo Baader-Meinhof, que também merece ser visto. O interessante aqui é a construção dos personagens, metáfora da antítese da sociedade alemã da época. Gudrun Ensslin (Lena Lauzemis) é de classe média, a filha escolhida entre seis irmãos para estudar, cujo pai era contra o nazismo, mas não lutou, permanecendo na indiferença; Bernward Vesper (August Diehl) é filho único, filho de pai nazista, responsável pelo banimento de livros suspeitos e censura cultural. Encontram-se na faculdade, no curso de literatura, resolvem abrir uma editora para publicar livros, mas cada um passa a ter um objetivo diferente. Editar livros com ideias ditas subversivas seria o suficiente? Seria possível fazer diferente com tanta instabilidade emocional, com um relacionamento ‘que tinha regras próprias”? O grupo encabeçado por Andreas Baader, que executava atos terroristas em espaços públicos e chamava a atenção da Europa, seria capaz de sacudir o mundo? Seria o melhor caminho?

Nessa confusão de amores, ideais, violência e inconsequência, o filme fala da vida do casal nessa época conturbada, de movimentos estudantis no mundo topo, de golpes militares, de prisões, de ditaduras. Muito bem construído, Se Não Nós, Quem? conta a história de personagens reais e me pegou já pelo título. Se não os jovens, quem? Sem fazer juízo de valor quanto aos atentados – que são injustificados, é claro – o ato de sair nas ruas, de protestar, de ter e usar sua voz ativa é realmente papel dos jovens, que anseiam por mudanças e que têm o poder real de mudar. Vestimos a carapuça? Realmente, se não forem eles, não há de ser ninguém. Mas voltando à Alemanha, vale conferir. Um ótimo filme sobre essa geração que nasce numa Alemanha que precisa se redescobrir e se reinventar.

* Filme da Mostra Internacional, já em pré-estreia esta semana.

 

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