SEM CORAÇÃO

Opinião
Especial 80º Festival de Veneza
SEM CORAÇÃO é o único longa brasileiro em competição em Veneza este ano. Concorre na categoria Orizzonti e é filme com coração. Quem não tem coração é a protagonista caiçara que mora com o pai e sobrevivem da pesca. Ela é chamada assim pela turma da praia porque tem uma cicatriz no peito É alguém à margem da galera que passa as férias de verão em Guaxuma, mas que revela seu nome quando encontra acolhimento.
Tamara é o espelho de Sem Coração, por assim dizer. E através dos olhos dela que passamos esses dias com os adolescentes. É o que chamamos de filme de rito de passagem (coming of age), em que o personagem vive uma fase de transformação. Tamara aproveita seus últimos dias com os amigos antes de ir embora pra estudar em Brasília. Estamos em Alagoas, nos anos 1990, com o momento político marcado pelo assassinato de PC Farias. Quem viveu os anos 90, vai lembrar.
Enquanto isso acontece como pano de fundo, Tamara se aventura com os amigos pela transgressão, pela descoberta da sexualidade, pelo anseio do novo e pelo medo da violência presente na sociedade. Mesmo com o sentimento de proteção daquele lugar conhecido, as imagens de natureza contrastam com os ambientes fechados, dando a ideia de uma fase de sentimentos contraditórios e difíceis de desvendar. SEM CORAÇÃO tem essa temática universal super presente na categoria Orizzonti, em que os filmes contam muitas vezes experiências particulares dos diretores, mas conseguimos nos projetar nas vivências como seres humanos.
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