SEM URSOS – Khers nist
Opinião
Jafar Panahi é a cara, a lente e o representante emblemático do Irã e suas atrocidades. Literalmente. Desde que foi condenado em 2010 por “fazer propaganda contra o sistema” foi impedido de filmar por 20 anos. Mas transgride, faz filmes, dá a cara pra bater sendo também personagem-cineasta em suas próprias histórias. Foi assim em Isto Não É Um Filme (20101), Táxi Teerã (2015) e 3 Faces (2018).
É isso faz a diferença. Fica com cara de documentário, de uma realidade desfigurada e distorcida, que espelha o absurdo e a repressão do Estado iraniano. Realidade e ficção se confundem em SEM URSOS: são duas histórias de amor. Uma é a história de um casal que planeja fugir do Irã pra tentar dias melhores na Europa. A história é filmada remotamente, porque o diretor do filme, Pahani, está em um vilarejo perto da fronteira do Irã com a Turquia; a outra é a história de jovens que não podem ficar juntos por causa da tradição desse vilarejo onde Panahi está, que funciona na base dos casamentos arranjados, dos dogmas religiosos e dos jogos de poder.
Lá, na fronteira com a Turquia, é justo dizer que há ursos onde eles não existem, desde que a mentira seja para acomodar os ânimos, não perturbar a hierarquia e manter as mulheres nos seus “devidos” lugares de submissão religiosa, familiar e social.
Vamos sem ursos, mas com desfecho impactante que infelizmente não faz parte só da ficção.
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