SHAMBHALA

Cartaz do filme SHAMBHALA

Opinião

Especial para a 74ª Berlinale

Para os nepaleses, o termo SHAMBHALA se refere ao lugar mítico onde não há dor ou sofrimento, onde só há paz e amor. Um lugar mítico que, no filme, é embalado pela alma feminina da protagonista Pema. Temos mais um filme com a jornada de uma mulher pela Himalaia, mas principalmente pela sua existência — o que dá ao espectador a liberdade de viajar dentro da narrativa, imaginando, por exemplo, que estamos viajando no imaginário da personagem.

Isso porque o mítico interfere na tomada de decisão de Pema e tudo fica mais poético e universal se nos desconectamos da lógica e entramos na experiência de transpor desafios pela montanha à procura do marido. Explico: Pema segue a tradição da poliandria naquela aldeia, ou seja, uma mulher pode ter mais de um marido. Pema é casada com 3 irmãos e está grávida. Quando um deles não volta de viagem, a paternidade de seu filho é contestada e ela parte na jornada para provar a todos quem é o pai do seu filho.

“Meu foco era retratar a personagem movida pela energia feminina”, diz o diretor Min Bahadur Bham na coletiva na Berlinale. “Pema está determinada e tem uma experiência espiritual profunda ao percorrer as montanhas atrás de seu marido.” Com uma fotografia linda da montanhas, os planos abertos retratam a imensidão da natureza em contraste com a finitude humana. O desfecho é delicado e está intimamente ligado com sua busca interior do que com a permanência nas tradições e convenções sociais. No fim do dia o que permanece é o encontro consigo mesmo. O resto, a montanha leva embora.

 

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