STRANGER EYES

Cartaz do filme STRANGER EYES

Opinião

A extrema vigilância é uma realidade em Singapura — inclusive, como lembra o diretor Yeo Siew Hua, é a cidade mais vigiada do mundo. Pro bem e para o mal. Ao mesmo tempo que inibe crimes, tira a privacidade num nível assustador. STRANGER EYES é sobre essa vigilância, sobre voyeurismo, sobre espiar e ser espiado. Mas vai mais além. Como disse o diretor na coletiva em Veneza, há no filme várias camadas do que entendemos como voyeurismo. “O que interessa é compreender que nunca conseguimos ter uma visão completa de algo”, diz ele. “É sempre um mosaico de vários pontos de vista, de várias perspectivas.”

Isso porque temos várias histórias que vão deixando pontas soltas e surgindo de outra maneira, construindo esse mosaico do que enxergamos e do que imaginamos. De repente, visto de outra maneira, tudo pode mudar. Um casal jovem tem uma filha e o bebê desaparece. Eles moram com a mãe do garoto e a polícia investiga quem pode ter sequestrado a criança. Existe um homem que espiona, filma e vai juntando provas. Num ritmo que oscila entre um thriller na investigação, também abre espaço para o drama pra olharmos para os personagens.

É um filme intergeracional, sobre um modo de vida em que pessoas da mesma família que moram juntas em um espaço muito pequeno, mas que ao mesmo tempo são alienadas umas das outras. “Quanto mais vivemos confinados nestes espaços, mais escondemos nossos sentimentos e ideias.” O que pode parecer um ato de perversão, pode ser algo diferente — e, de repente, ninguém percebe. É dessa alienação que o filme fala. Em tempos em que consumimos informações prontas, superficiais e muitas vezes copiadas, não nos damos ao trabalho de realmente mergulhar e pensar sobre aquela pessoa, questionar a informação, duvidar do que está sendo dito. “Talvez a gente tenha que reservar um tempo pra observar as pessoas com sinceridade”, diz Yeo Siew Hua. “É um convite para sermos mais pacientes com as pessoas; se observarmos com mais calma, a recompensa será bem melhor.”

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