Opinião

Há algum tempo revi o belíssimo filme Camille Claudel, de Bruno Nuytten, para publicá-lo aqui no Cine Garimpo. Com Isabelle Adjani e Gérard Depardieu, conseguimos ter uma pincelada da intensidade do relacionamento do famoso escultor e sua aprendiz, que alegava ter seu talento abafado por ele. Embora apaixonado, Rodin não largaria sua esposa para ficar com Camille, que acaba num hospício e destrói várias de suas lindas obras.

No teatro, a força do relacionamento também vem da impetuosa e talentosa Camille, na pele da atriz Melissa Vettore. Em cartaz no bonito auditório do MASP, recentemente recuperado depois de anos fechado ao público, a peça Camille & Rodin tem uma estrutura interessante, que faz o espetáculo fluir. Mescla o começo, o meio e o fim, fazendo Camille e Rodin (Leopoldo Pacheco) oscilarem entre a loucura e a vivacidade, a solidão e a criatividade, o desespero e a ousadia da artista, no ritmo do abrir e fechar das portas do cenário – que funcionam como portas da vida e do inferno para Camille. Eles vão e vêm, dando mais leveza ao texto, bonito e denso. Portanto, precisava mesmo de uma ferramenta para quebrar esse ar pesado e contestador que Camille imprime ao romance. Claro, estava à frente de seu tempo, queria brilhar enquanto escultora, sair da sombra do mestre e ser amada abertamente.

Através da história dos dois escultores, que se entrelaçam de tal forma que suas obras parecem uma só, temos um panorama interessante e vivo da intensa atividade artística do fim do século 19 e começo do século 20. Camille é jovem, criativa e apaixonante. Aprendiz do já conceituado escultor Rodin, se envolve profissional e emocionalmente com ele e ambos trabalham a escultura como reflexo do corpo, com alma e movimento. Camille representa a quebra dos costumes da época, em que uma mulher escultora era algo inadmissível; Rodin representa a tradição, a consagração do masculino no mundo das artes. Um relacionamento repleto de antagonismos.

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PROGRAME-SE:

Camille & Rodin, de Franz Keppler

Direção: Elias Andreato

Elenco: Melissa Vettore e Leopoldo Pacheco

Grande Auditório do MASP 

De sexta e sábado, 21h; domingo, 19h30