THE EDITORIAL OFFICE

Cartaz do filme THE EDITORIAL OFFICE

Opinião

As filmagens de THE EDITORIAL OFFICE começaram antes da invasão da Rússia na Ucrânia e, às duras penas, foi concluído durante a guerra. Concluído e reestruturado, porque o editor do filme, Viktor Onysko, decide ir pra frente de combate e é morto. O filme é dedicado a ele, numa produção que é uma sátira da corrupção na política e na imprensa, o que traz à tona, com força e veracidade, a tal da pós-verdade: o que aparenta ser verdade é mais importante do que os fatos em si.

Parece confuso e distante, mas não é. Tudo gira em torno do jovem jornalista Yura, que trabalha na pesquisa de espécies ameaçadas e tenta encontrar e fotografar a marmota no sul da Ucrânia. O objetivo é chamar a atenção das autoridades para, desta forma, pressioná-las a preservar as florestas da região e conseguir que a área se torne uma reserva europeia. Acontece que no seu trabalho de apuração ele é testemunha de criminosos colocando fogo na floresta. Yura fotografa e filma a cena do crime e acredita ter em mãos um material precioso de denúncia.

Só que não. Em um ambiente totalmente corrupto, Yura não só não consegue que os jornais publiquem sua reportagem, como é perseguido por ter as informações. No paralelo, sua mãe está sem dinheiro e sem emprego, se envolve com um político poderoso para ter privilégios e sobreviver; sua colega jornalista faz parte dos voluntários da resistência, que ainda acreditam que conseguirão quebrar o ciclo vicioso do crime e da corrupção e expõe a misoginia, o machismo e os crimes contra a mulher socialmente aceitos.

O título THE EDITORIAL OFFICE traça um paralelo entre a redação de um jornal e a sociedade propriamente dita. É nesta redação/sociedade ucraniana que são tomadas as decisões do que deve ser publicado ou não. E isso não é decisão de uma pessoa só. É uma redação inteira contaminada, produzindo notícias falsas, retroalimentando um sistema doente que finge que marmotas farão a diferença, que gurus trambiqueiros resolverão os problemas do mundo e que plantar algumas árvores diante da imprensa internacional lavará a alma. Mas ninguém está nem aí.

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