THREE KILOMETRES TO THE END OF THE WORLD

Cartaz do filme THREE KILOMETRES TO THE END OF THE WORLD

Opinião

O fim do mundo é aqui e não precisa ir longe. Neste lindo vilarejo no delta do Danúbio, na sua porção romena, Adi vai passar o verão com os pais. Numa noite, vai a um bar com os amigos e é gravemente agredido. A partir daí, a aparente beleza e leveza do local começa a se desintegrar, num caminho sem volta.

“Quando o amor entre pais e filhos, que deveria ser incondicional, começa a exigir condições pra existir, é porque há algo muito errado acontecendo”, diz o diretor Emanuel Parvu, que apresentou o THREE KILOMETRES TO THE END OF THE WORLD em Sarajevo e saiu de Cannes em 2024 como a Palma de Ouro Queer. E o filme fez eco aqui no festival já que o assunto da subnotificação de crimes homofóbicos é uma realidade em muitos países. Isso porque o filme expõe a situação absurda do conluio entre policiais, empresários corruptos e a Igreja para abafar o crime. O ambiente repressor e claustrofóbico estará sempre presente, contrastando com a amplitude das cenas ao ar livre e das cores alegres e delicadas da casa da família.

O tema é universal e sabemos bem disso. Na Romênia, tem um fator a mais habituado à política da delação. “Ainda estamos vivendo na Romênia com uma mentalidade pós-comunista, ainda estamos preocupados com o que os outros vão dizer”, sinaliza o diretor. O ator Ciprian Chiujdea conta que a história dialoga muito com sua experiência de vida e que ele é da região onde o filme se passa. No filme, seus silêncios contam mais do que as palavras — e o silenciar, aqui, é importante. Crimes não são denunciados por medo, vergonha ou conivência das autoridades. Está tudo colocado aqui, com delicadeza e força ao mesmo tempo, numa linguagem universal, inclusive quando Adi olha pro espectador, dizendo que isso pode acontecer com ele também.

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