UM NOVO DESPERTAR – The Beaver

Cartaz do filme UM NOVO DESPERTAR – The Beaver
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Opinião

Judie Foster é amiga de longa data de Mel Gibson. O comentário na saída do filme era o seguinte: “ainda bem que Judie deu emprego ao Gibson…”. Mas precisava ser justamente um papel que esmiúça o seu grande mal, a bebida? Amiga da onça?

Não, vejo de outra maneira. Vejo como um ato de coragem de ambas as partes. Do lado da sempre talentosa Judie Foster, coragem por dirigir um filme sobre uma família completamente desestruturada, em que as relações estão dilaceradas por um pai deprimido e mergulhado no alcoolismo e por conseguir trazer algo de novo a esse panorama tão explorado; por parte de Mel Gibson, antes tão badalado, por aceitar fazer papel de um sujeito que sofre da mesma doença que o ator na vida real, em tempos de internet e total falta de privacidade.

Um Novo Despertar tem como título original The Beaver, que significa O Castor e refere-se ao fantoche que vemos no pôster acima. É por causa dele que há de fato uma história para contar. Totalmente deprimido e com o casamento em frangalhos, Walter Black (Mel Gibson) encontra no brinquedo a sua faceta equilibrada, racional, criativa e trabalhadora. É dando voz ao Castor (com diferente sotaque) que ele consegue se comunicar com a família, com a equipe de trabalho e retomar a vida normal. Serve como válvula de escape, como bengala: como não consegue se olhar no espelho, ouvir a própria voz, encarar a realidade, o faz através de um personagem que cria para ser o seu outro “eu”. Sem o Castor na mão, Walter não consegue se comunicar, nem viver; munido do fantoche, externa seus sentimentos de até que forma tranquila, equilibrada e chega a se relacionar com as pessoas quase que normalmente. Mas o tal Castor ganha tanta força, tanta importância na vida de Walter que nada mais é possível se não for através dele. Walter não tem mais voz ativa, não comanda sua vida, seus atos, seus sentimentos. O Castor o manipula e o domina de forma cruel.

Essa imagem elaborada pelo olhar de Judie Foster é muito interessante e complexa do ponto de vista da psicologia humana. Foi uma maneira de mostrar como é a máscara que criamos e vestimos quando parece penoso demais encarar um problema, olhar para dentro de si, procurar ajuda especializada. São os outros “eus” que criamos, as fantasias e mentiras que inventamos para nós mesmos para não cuidar da intimidade do problema que, no caso de Um Novo Despertaré o alcoolismo, o relacionamento agressivo do filho, o trabalho interrompido, a falta de dinheiro. Imagem forte que pode ser aplicada a várias situações, principalmente àquelas em que vemos as pessoas fugindo de si mesmas, fingindo ser quem não são.

Os diálogos são fortes, assim como são as cenas de dor e sofrimento da família. Mas imagino que era para ser impactante mesmo. Para que fosse real. O filme tem inclusive um final certeiro, quando não finaliza o drama, nem minimiza o sofrimento. Apenas apresenta as diversas facetas do difícil caminho da recuperação e do tratamento, que precisa vir junto com a vontade de ver os fatos, de mudar. Não finaliza, apenas sinaliza o começo de um processo. É assim que é, um processo. Quem não está disposto a passar por ele, trata do problema de forma pontual munido de um Castor centralizador e eficiente, ou qualquer outra coisa que o valha.

Estreia dia 27 de maio nos cinemas.

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