DECISÃO DE PERTIR – DECISION TO LEAVE
Opinião
Definitivamente não é mais um filme sobre a investigação de um assassinato. Pelo menos não da maneira com que estamos acostumados. Mas quem assistiu à A CRIADA, também do diretor Park Chan-wook, vai conseguir visualizar que diferença é essa que salta tanto aos olhos e faz sentirmos o filme de outra maneira.
Difícil é descrever que maneira é essa. O que parece ser muito picotado, com várias narrativas sobrepostas, cortes rápidos e frequentes, vai sendo costurado de forma surpreendente. E as surpresas não param até o último minuto (que desfecho, meu Deus!). Um jovem inspetor de polícia de Busan é incumbido de desvendar se a morte de um alpinista foi suicídio ou homicídio. A viúva é quem está na mira do policial, já que ela não parece nem surpresa, nem triste com a morte do marido.
O que se vê é um jogo constante de sedução, seja numa esfera subliminar de olhares e gestos, já que os personagens parecem não se render ao romance, seja de objetividade, em que as provas e evidências são coletadas e ocupam seus devidos lugares na trama.
Não que sejam os lugares tradicionais, porque tudo isso está contaminado pela obsessão do policial pela investigada, ele que é encarregado de vigiá-la à noite. Ou seria um jogo de interesse? O que parece ser confuso na verdade é o quebra-cabeça que o cineasta, que levou a Palma de Ouro pela direção em Cannes, constrói pra entregar ao espectador uma trama fora do clássico, do esperado. Personagens são desenvolvidos aos poucos, aprofundados — nos envolvemos com eles sem saber onde tudo aquilo vai chegar. E chega em lugares incomuns, mostrando que nem sempre a verdade caminha por trilhas óbvias e lineares.
Comentários