AMOS GITAI E SEU CINEMA COM CRÍTICA E POESIA

Nem um dos dois filmes de Amos Gitai está na competição aqui no 75º Festival de Veneza. A essa altura do campeonato, nem precisava. Seu cinema é naturalmente crítico, mas não sem poesia – e, como ele diz, “um cineasta não pode se divorciar dos eventos reais, precisa falar deles e o Oriente Médio produz diariamente muito material para reflexão.” Amos apresenta A Letter to a Friend in Gaza e A Tramway in Jerusalem – que são coisas separadas, mas que se complementam. Bem intimamente, inclusive.

A Tramway in Jerusalem simula “o que poderia ser a relação entre pessoas de diferentes nacionalidades e religiões, se houvesse menos conflito”, explica o diretor na entrevista à imprensa há pouco em Veneza. “Me interesso pelo quebra-cabeça humano e não pelo cinema homogêneo.” O filme é essencialmente o que diz o título: dentro de um trem que cruza os diferentes bairros de Jerusalém, pessoas com diferentes histórias de vida se encontram. Elas se comunicam – pacifica ou violentamente, com ironia, humor ou musicalidade, mostrando o quanto somos iguais. (Aliás, quanto mais a gente vive, mais percebe o quanto as histórias de vida se repetem. Seja lá onde for.)

Filmado inteiramente dentro de um trem, tem casal israelense discutindo a relação; padre católico citando trecho bíblico; a mãe judia se queixando que o filho não lhe deu netos; a mulher israelense acusando, precipitadamente, o palestino trabalhador; a palestina com nacionalidade holandesa, amiga da israelense com nacionalidade alemã; a israelense belicista fazendo a cabeça do turista francês; o policial israelense abusando do poder. E por aí vai. O céu é o limite.

Depois de filmar A Tramway in Jerusalem, Amos Gitai (também de Free Zone) escreveu o curta A Letter to a Friend in Gaza – textos sobre a intolerância, o desrespeito, o desamor. Carrega o questionamento da geração mais jovem sobre o comportamento de seus pais, que deixaram a situação chegar no ponto em que estamos hoje – tenham sido eles omissos ou coniventes. Temas humanos e corriqueiros – já que, como diz uma das atrizes, “amar é simples demais”. Viver no conflito parece ser, para a natureza humana, um desafio bem maior.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE VENEZA – La Biennale

Por Suzana Vidigal, de Veneza

Acompanhar festivais de cinema significa ficar na fila. Mas cada fila tem lá suas particularidades. No Festival Internacional de Cinema de Veneza, significa ficar debaixo do sol de agosto da Itália; em Berlim, aguentar o frio do inverno alemão, de rachar. Cannes é em maio, mais ameno, tipo clima de primavera-verão. Embora pareça, não tem vida fácil – nem por aqui. Mas tem vida cheia de novas visões de mundo – e essa é a grande graça.

Se pensarmos de maneira bem simples, o desafio desses dez dias é ir ao cinema: montar uma estratégia para tentar assistir aos 21 filmes que concorrem a Leão de Ouro e tentar ver algum das outras mostras paralelas, num total de 72; pinçar algum curta dentre os 15 e dar uma espiada na mostra Venezia Classici, com 40 filmes restaurados e 18 documentários; experimentar a sensação da realidade virtual, com 40 produções nesse formato. Parece moleza. Selecionados entre 3311 filmes assistidos pela produção do festival, quem foi escolhido já leva a chancela de ter passado por uma seleta peneira. E não está aqui por acaso.

Aliás, nada é por acaso. Costuma-se dizer que a seleção de filmes de um festival é um “recorte do presente” – o que é bastante óbvio. O que Alberto Barbera, diretor da 75ª edição de Veneza diz é que esse conceito de que o “presente está entre o passado e o futuro” não tem sentido algum. Que não são momentos separados, mas que eles coexistem. “As pessoas acreditam que o mundo é feito de coisas, substâncias, entidades. De algo que permanece. Ou podem acreditar que seja feito de eventos, incidentes, processos. De algo que acontece”, diz ele. E concluiu, chegando no ponto-chave: “É feito de algo que não dura, mas que está em contínua transformação”.

Se o mundo é o cinema, consideramos o cinema uma coleção de acontecimentos e processos, que nos ajudam a entender o mundo. A ideia é parar de colocar filmes em ordem cronológica, parar de encaixar as tecnologias nas respectivas décadas, as transformações do mercado, a revolução digital. A lógica não é linear – e talvez nem exista. Existe? Cinema e vida se mesclam, são dependentes e coexistentes. Somos parte disso. Assim como somos formados de experiências passadas e expectativas futuras, não dá pra dividir em partes. Com o cinema, é igual. Fora com a linha do tempo. Vamos na onda do cinema atemporal – e, por aqui, cada um é de um jeito mesmo. Vamos desde contos de faroeste até o espaço; de comédia da vida privada francesa à drama mexicano, da melhor qualidade.

Ou vamos na linha do pôster (na foto), com sua áurea feminina, sugerindo um tipo de enigma. Do ilustrador e designer Lorenzo Mattotti, essa mulher olha por uma lente, vê o planeta Terra, ou seja, olha pra nós, para a realidade. E tem um quadrado na mão. Tela de cinema? O olhar para as pessoas filtrado pela linguagem do cinema? Pensei num espelho – pode ser, vida e arte se imitam. Pode ser o que você quiser. Se estamos falando de cinema atemporal, o que importa é assistir aqui e agora. Viajar junto, aqui em Veneza ou em qualquer lugar. Basta entrar na tela.

31 agosto 2018

VIII ROCKY SPIRIT – FESTIVAL DE FILMES OUTDOOR

Tem cinema ao ar livre dias 18 e 19 de agosto, no parque Villa-Lobos, em São Paulo. Ao ar livre, sobre viver ao ar livre: o VIII ROCKY SPIRIT – FESTIVAL DE FILMES OUTDOOR.

Explico: a curadoria de filmes do festival foca em produções sobre esportes, práticas e convivências outdoor. São documentários das mais diversas aventuras, com o montanhismo, escalada, caminhada, surf, bike, meio ambiente; filmes vindos do prestigiado Telluride Mountainfilm Festival, nos Estados Unidos, além de produções nacionais. No site do festival tem toda a programação (clique aqui).

Em sintonia com o tema dos filmes, o Rocky Spirit programou diversos eventos no parque nesses dias, com o cinema às 19h pra fechar tanto o sábado, quanto o domingo.

Dá só uma espiada na qualidade!

 

 

 

7º Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo

Mais um festival de cinema em São Paulo, que é sempre palco de filmes de todos os cantos do mundo. Com filmes vindos da Suíça, o 7º Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo conta com curtas e longas, que serão exibidos no Cinesescde 09 a 16 de maioe no CCBB SP, de 09 a 21 de maio. Além disso, haverá mais  duas itinerâncias na programação: uma no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília (CCBB DF), de 22 de maio a 10 de junho e outra no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB RJ), de 30 de maio a 16 de junho.

Seguem abaixo os longas:

A FÚRIA DE VER
Documentário | Suíça | 2017 | 84 min. | 16 anos
Título Original: La Fureur de Voir
Direção: Manuel von Stürler
Sinopse: Diante da ameaça de ficar cego, o diretor Manuel von Stürler
se lançou em uma busca para descobrir o que a percepção visual
significa. Sua ânsia por enxergar alimenta uma jornada que nos
mergulha no mundo da visão e tenta responder à pergunta: o que
significa ver?

_________________________________________________
AMARRADOS
Documentário | Suíça | 2017 | 106 min. | 10 anos
Título Original: Encordés
Direção: Frédéric Favre
Sinopse: Por um ano e meio, o cineasta Frédéric Favre acompanha três
alpinistas de esqui enquanto eles se preparam para a Patrulha dos
Glaciares, uma corrida incrivelmente difícil pelos Alpes suíços. Florence
quer participar em memória do pai, mas ela não está acostumada a
trabalhar em equipe. Guillaume é um competidor talentoso que luta para
encontrar um equilíbrio entre a família, o trabalho e a paixão pelas
montanhas. Antoine acabou de sair da reabilitação e está ansioso para
provar o seu valor ao mundo. Uma jornada crua e íntima pelas
motivações mais profundas dos protagonistas e a história de como essa
aventura os transforma.

_________________________________________________

ANIMAIS
Ficção | Suíça – Áustria – Polônia | 2017 | 95 min. | 14 anos
Título Original: Tiere
Direção: Greg Zglinski
Sinopse: Um acidente com uma ovelha em uma estrada do interior
inicia uma série de experiências estranhas e perturbadoras para Anna
e Nick, deixando-os incertos de onde estão exatamente: no mundo
real, em suas próprias imaginações ou nos devaneios de outra pessoa.

_________________________________________________
BE’ JAM BE ESSE CANTO NUNCA TERÁ FIM
Documentário | França – Suíça | 2017 | 85 min. | 10 anos
Título Original: BE’ JAM BE et Cela n’Aura pas de Fin
Direção: Caroline Parietti, Cyprien Ponson
Sinopse: Em Sarawak, na ilha de Bornéu (mais precisamente na parte
que pertence à Malásia), o povo Penan enfrenta as mudanças
causadas pela crescente ameaça de desmatamento. A obra, carregada
pela música daqueles que se recusam a ceder, desenha as linhas da
resistência de cada que participa dessa luta mortal.

_________________________________________________

BEM-VINDO À SUÍÇA
Documentário | Suíça | 2017 | 83 min.| 12 anos
Título Original: Willkommen in der Schweiz
Direção: Sabine Gisiger
Sinopse: No verão de 2015, um milhão de pessoas procuram por asilo
na Europa e 40 mil delas conseguem chegar à Suíça. O prefeito da
cidade mais rica da região da Argóvia pretende dar o exemplo e recusa
a entrada de qualquer refugiado em seu município. Johanna Gündel,
estudante e filha de um agricultor local, passa a lutar contra essa política
ao lado de outros moradores. Tomando como ponto de partida os
eventos em Oberwil-Lieli, o filme conta a história da Suíça nos tempos
da crise de refugiados, mostrando o que o país era, quer ser ou poderia
se tornar.

_________________________________________________
COPIAR COLAR DELETAR
Ficção | Suíça | 2018 | 82 min.
Título Original: Copy Paste Delete
Direção: Christoph Rahm
Sinopse: Um homem está fazendo um inventário. Um homem está
procurando por uma foto. Procurando pela última foto de sua vida.
Fugindo de uma enxurrada de imagens, ele recorda decepções do
passado e mudanças perturbadoras. Em cinco fases de sua vida, seus
pensamentos e memórias se misturam em uma narrativa fragmentada.
Prazer, raiva, saudade, medo e tristeza são os tópicos das cinco etapas
da vida: infância, juventude, adolescência, vida adulta e a morte
iminente.

_________________________________________________

DEPOIS DA GUERRA
Ficção | França – Itália – Suíça | 2017 | 92 min. | 14 anos
Título Original: Dopo la Guerra
Direção: Annarita Zambrano
Sinopse: Bolonha, 2002. Os protestos contra a lei trabalhista italiana
explodem nas universidades. O assassinato de um juiz reabre velhas
feridas políticas entre a Itália e a França. Marco é um ex-ativista de
esquerda que, graças à doutrina de Mitterrand, encontrou asilo na
França 20 anos atrás. Condenado na época por assassinato, ele é hoje
o principal suspeito de ordenar o ataque. O governo italiano exige sua
extradição, o que o força a fugir com Viola, sua filha de 16 anos. Sua
vida vai mudar para sempre, assim como o destino de sua família na
Itália, que terá de pagar pelas falhas do passado de Marco.

_________________________________________________
DIÁRIO DA MINHA CABEÇA
Ficção | Suíça | 2017 | 70 min. | 14 anos
Título Original: Journal de Ma Tête
Direção: Ursula Meier
Sinopse: Poucos minutos antes de atirar em seus pais a sangue-frio,
Benjamin Feller (Kacey Mottet Klein), um rapaz de 18 anos,
aparentemente calmo, envia pelo correio um diário em que confessa e
explica o duplo assassinato para Esther Fontanel (Fanny Ardant), sua
professora de literatura. A associação dessa mulher ao ato de Benjamin
acontece alguns meses após ela incentivar os alunos a escrever um
diário. Esther se encontra interrogada pela lei, mas logo ela é
confrontada por suas próprias dúvidas. E se o gosto dela por uma
literatura assombrada pelos tormentos da alma humana a deixasse cega
diante da angústia de seu pupilo e do que estava escondido por trás da
prosa febril que ele a fez ler antes do crime?

_________________________________________________

EU NÃO TENHO IDADE (PARA TE AMAR)
Documentário | Suíça – Itália | 2017 | 93 min. | 8 anos
Título Original: Non Ho l’Età
Direção: Olmo Cerri
Sinopse: Carmela, don Gregorio, Gabriella e Lorella nunca se
encontraram, mas têm muito em comum. Na metade da década de
1960, no auge da grande onda migratória, sozinhos ou acompanhados
de suas respectivas famílias, eles deixaram a Itália e chegaram à Suíça,
onde viveram por um período mais ou menos longo. Eles moraram no
país durante os difíceis anos de Schwarzenbach [James, político que
defendia “a Suíça para os suíços”], enquanto ouviam Gigliola Cinquetti,
uma jovem cantora pop de Verona que ficou famosa após vencer o
Festival de Sanremo em 1964 com a música Non Ho l’Età (Per Amarti).

_________________________________________________
EU SOU A GENTRIFICAÇÃO. CONFISSÕES DE UM CANALHA
Documentário | Suíça | 2017 | 99 min. | 12 anos
Título Original: Die Gentrifizierung Bin Ich. Beichte Eines Finsterlings
Direção: Thomas Haemmerli
Sinopse: Um ensaio bem-humorado e pessoal que trata de arquitetura,
habitação, espaço, densidade, gentrificação e desenvolvimento urbano.
A narrativa abrange os diferentes lugares nos quais o diretor viveu,
começando por sua infância em um bairro rico, passando por ocupações,
apartamentos compartilhados, além da vivência em cidades como Tbilisi
(Geórgia), São Paulo (Brasil), Zurique (Suíça) e Cidade do México
(México). Tudo aqui é ridicularizado: os populistas de direita que têm
medo de perder espaço para os imigrantes e a esquerda que abandonou
a modernidade.

_________________________________________________

GOLIAS
Ficção | Suíça | 2017 | 85 min. | 14 anos
Título Original: Goliath
Direção: Dominik Locher
Sinopse: Quando Jessy conta a David que está grávida, ele entra em
pânico. Poucos dias depois, os dois são agredidos no trem e, quando
David percebe que é incapaz de proteger a namorada, sua insegurança
e seus temores masculinos vêm à tona. Ele recorre, então, aos
esteroides e começa a treinar de forma excessiva e intensa.
Inicialmente, seus músculos lhe dão autoconfiança. Em pouco tempo,

no entanto, David passa a se comportar de forma imprevisível e torna-
se uma ameaça à Jessy e ao bebê que ainda vai nascer.

_________________________________________________
HAFIS & MARA
Documentário | Suíça | 2018 | 88 min. | 12 anos
Título Original: Hafis & Mara
Direção: Mano Khalil
Sinopse: O filme conta a história dos últimos anos de um casal: o artista
suíço-libanês Hafis Bertschinger e Mara, sua fiel esposa e patrona. Ele é
um viajante incansável que cruza fronteiras entre diferentes mundos e
culturas e que, mesmo na velhice, ainda cria apaixonadamente. Hafis
adora experimentar e ser desafiado em suas pinturas e desenhos, nos
relacionamentos, no dia a dia. No entanto, sua dedicação incondicional
à arte e seu caráter impulsivo também causaram muita dor. A obra foca
não só o artista, mas a tranquila Mara, refúgio seguro de Hafis e quem
tornou seus voos artísticos possíveis.

_________________________________________________

O TRIBUNAL DO CONGO
Documentário | Alemanha – Suíça | 2017 | 100 min. | 12 anos
Título Original: Das Kongo Tribunal
Direção: Milo Rau
Sinopse: A guerra no Congo causou mais de seis milhões de mortes
nos últimos 20 anos. A população está sofrendo, mas os criminosos
permanecem impunes. Muitas pessoas atribuem esse conflito aos
importantes depósitos de matéria-prima de alta tecnologia existentes
no país. Milo Rau consegue reunir vítimas, infratores, observadores e
analistas do conflito para um único tribunal civil no Congo Oriental. O
diretor cria um retrato simples de uma das maiores e mais sangrentas
guerras econômicas da história da humanidade.

_________________________________________________
O SOM DA VOZ
Documentário | Suíça | 2017 | 82 min.
Título Original: Der Klang der Stimme
Direção: Bernard Weber
Sinopse: O longa apresenta quatro pessoas que testam as inúmeras
possibilidades da voz humana. Andreas experimenta sua voz para
desenvolver novos sons que o transformam. Regula está trabalhando
duro para alcançar um efeito surround natural de 360 graus. Matthias
tenta entender os segredos da voz a partir de sofisticados métodos
científicos. Por fim, as técnicas de Miriam inspiram as pessoas a
descobrirem suas próprias vozes.

_________________________________________________

SOBRE OVELHAS E HOMENS
Documentário | Suíça – França – Qatar | 2017 | 78 min. | 14 anos
Título Original: Des Moutons et des Hommes
Direção: Karim Sayad
Sinopse: Habib, de 16 anos, sonha em treinar sua ovelha premiada
para que ela se torne uma campeã de briga entre animais de sua
espécie. Samir, um homem de meia-idade, quer apenas vender o
máximo de ovelhas antes que o Eid — celebração que marca o fim do
Ramadã — termine. Um retrato de dois homens em uma conturbada
comunidade da Argélia.

_________________________________________________
TELEVISÕES
Documentário | Suíça | 2018 | 52 min. | 13 anos
Título Original: Televisionen
Direção: Fabian Kaiser, Luca Ribler
Sinopse: A televisão suíça fez suas primeiras transmissões para os lares
do país em 1o de janeiro de 1958. Essas imagens em movimento
moldaram a forma como nos vemos e a maneira como enxergamos
nossos semelhantes. Imagens de estranhos, parasitas, trabalhadores e
heróis. De criminosos e vítimas de guerra. Em cada episódio,
“Televisões” analisa diferentes estereótipos. Capítulo um: estrangeiros.

 

21º FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO

Tirando da frente, de uma vez por todas, o discurso de que é preciso ser judeu para interessar-se pelo festival – e isso serve para qualquer mostra temática – fique de olho no garimpo que temos de 30 de julho a 9 de agosto em São Paulo. Organizado e idealizado pelo Clube Hebraica, o festival vai exibir 24 filmes (19 inéditos) que abordam a cultura judaica, a partir dos mais varias prismas – político, artístico, musical, histórico, feminino, esportivo, entre outros.

A programação está disponível no site da Hebraica, mas ficam aqui as sugestões já vistas.

_______________________

OS MENINOS QUE ENGANAVAM NAZISTAS, de Christian Duguay (2017) | Prepare o lenço para mais uma história real, contada sob o ponto de vista do mais novo dos quatro irmãos de um casal de judeus. Praticamente um roadmovie de fuga, o foco é no garoto Jojo que precisa chegar no sul da França com o irmão, para não ser enviado ao campo de concentração. Superemocionante, tem um título lindo em francês: “um saquinho de bolas de gude” – traduz a sensibilidade do filme, na importância da família, do convívio e a força das memórias afetivas. | Estreia no circuito comercial dia 3 de agosto. 

 

_________________________

BYE BYE ALEMANHA, de Sam Garbarski, (2017) | Do diretor do ótimo Irina Palm, esta produção passeia no pós-guerra, com foco em um grupo de sobreviventes do Holocausto. Embora traumatizados com os horrores da guerra e todas as perdas, os amigos tocam a vida em frente, inventam um novo negócio pra ganhar dinheiro e conseguir migrar para os Estados Unidos. Com humor e uma pegada de uma quase-aventura (tem um clima de ousadia de rir da própria tragédia), o roteiro dá ao filme uma leveza inverossímil, porém bem-vinda. Uma mensagem da vida que segue, de que muitos estão vivos, prontos pra refazer a vida, encontrar a cara-metade e tocar o barco adiante. | Filme de abertura do festival, estreia no circuito comercial dia 24 de agosto, (foto).

 

 

 

FESTIVAL DE CANNES 2017

Terminou Cannes e ficaram as promessas pra nós que ainda não vimos o que rolou por lá. Segue a lista das pendência para os próximos meses, só pra ficar na vontade de assistir a tanto filme bom que vem por aí. Vale dizer: só a Netflix saiu de mãos vazias, com bem disse o presidente do júri Pedro Almodóvar. O resto do mundo ganhou a chancela de Cannes: Suécia, Turquia, Escócia, França, Marrocos, Japão, Itália, Estados Unidos, Rússia, México, Irã. Bem bom – talvez reflexo de um júri cada vez mais eclético e heterogêneo.

 

_ PALMA DE OURO_ The Square, de Ruben Östlund

Sueco, é dele também o ótimo – e perturbador – Força Maior. Sobre o momento em que os casais começam a se estranhar e percebem que há alguém ali que já não reconhecem. E que não reconhecem a si mesmos. Já The Square toca no tema da arte contemporânea, que, segundo o diretor, “é algo que deve ser criticado, analisado, assim como qualquer outra área do conhecimento, inclusive o cinema”. Fato, a gente não precisa aceitar e consumir tudo que vê.

**********************

_MELHOR DIRETOR_ Sofia Coppola 

Ganhou com sua releitura de O Estanho que Nós Amamos (The Beguiled), com o trio loiro Nicole Kidman, Elle Fanning e Kirsten Dunst, além de Colin Farrell. Família de cineastas (seu pai, Francis Ford Coppola, de O Poderoso Chefão, e sua avó, Eleonor Coppola, que estreia o filme Paris Pode Esperar semana que vem!). Talentosíssima, tem um estilo todo pessoal, sem rabo preso. Vide meu favorito Encontros e Desencontros (Lost In Translation – não é por acaso que é o que eu mais gosto!). Também ótimos Um Lugar Qualquer e Bling Ring – A Gangue de Hollywood.

**********************

_PRÊMIO ESPECIAL 70º ANIVERSÁRIO de CANNES_ Nicole Kidman

Dispensa apresentações. A atriz arrasa, é camaleoa, produz sem parar e só em Cannes estava presente com dois filmes: O Estranho que Nós Amamos (venceu melhor diretor, com Sofia Coppola) e The Killing of a Sacred Deer (melhor roteiro). 

Da filmografia de Nicole: Lion – Uma Jornada para Casa, Os Outros, As Horas, Nine, Segredos de Sangue, Grace de Mônaco, Uma Longa Viagem, Antes de Dormir, Reencontrando a FelicidadeDe Olhos Bem Fechados

 

*************************

_MELHOR ATRIZ_ Diane Kruger

Pelo filme In The Fade, do turco Fatih Akin (também de Soul Kitchen e Por Outro Lado – ótimos filmes). Este novo é duro, filme sobre perda e reconstrução. “Há anos esperava pra fazer um filme em alemão”, disse a atriz, também de Bastardos Inglórios, Adeus, Minha Rainha e Pais e Filhas. “É sobre uma mulher que perde tudo e precisa reaprender a viver sem nada”, completa Diane, na entrevista após receber o prêmio. Ela está fora da Alemanha há mais de 20 anos. Linda e poliglota!

*************************

_MELHOR ATOR_Joaquin Phoenix

Premiado pelo filme You Were Never Realy Here, da britânica Lynne Ramsay. É dela também aquela paulada que é Precisamos Falar Sobre Kevin, que não deixa ninguém sair ileso – muito menos quem é mãe. Phoenix tem filmes ótimos no currículo. Três são meus preferidos: Amantes, com Gwyneth Paltrow; O Homem Irracional, um Woody Allen com Emma Stone e Ela (Her), com a voz de Scarlett Johansson. Também está em O Imigrante e Hotel Ruanda.

*************************

_PRÊMIO DO JÚRI_ Loveless

O russo Andrey Svyagintsev disse, em entrevista coletiva, que seu objetivo não foi fazer um filme político – embora tenha esse pano de fundo. “O tema é a ausência de empatia e egoísmo entre as pessoas”, revela. De fato: um casal se separa, entra naquele estresse do divórcio e seu filho desaparece. Dramático. É dele também o impactante Leviatã, que ganhou melhor roteiro em Cannes em 2014.

*************************

_MELHOR ROTEIRO_ The Killing of a Sacred Deer e You Were Never Really Here

Dividiram o prêmio, o grego Yorgos Lanthimos de The Killing…  e a escocesa Lynne Ramsay por You Were…

*************************

_GRANDE PRÊMIO DO JÚRI_ 120 Batimentos por Minuto

O diretor Robin Campillo é franco-marroquino e também foi responsável pelo roteiro de Entre os Muros da Escola, filmaço que levou a Palma de Ouro em 2008.  Sobre a Aids e a luta de um ativista contra a indiferença em relação à doença.

*************************

_PRÊMIO DO JÚRI ECUMÊNICO_ Radiance

Da diretora japonesa Naomi Kawase, também responsável pelo lindo e sensível Sabor da Vida, indicado ao prêmio Un Certain Regard em Cannes em 2015.

*************************

_CÂMERA DE OURO (para diretores estreantes)_ Jeune Femme, de Léonor Serraille

_OLHO DE OURO (melhor documentário)_ Visages, Villages, de Agnès Varda

_PALMA DE OURO DE CURTA METRAGEM_Xiao Cheng Er Yue

**********************

MOSTRA UN CERTAIN REGARD

_MELHOR FILME_ A Man of Integrity, de Mohammad Rasoulof (Irã)

_MELHOR DIRETOR_ Taylor Sherida, por Wind River (também roteirista de Sicário)

_PRÊMIO DO JÚRI_ April’s Daughter, de Michel Franco (também de Depois de Lúcia e Chronic_ México)

_MELHOR PERFORMANCE_ Jasmine Trica, pelo papel em Fortunata

__________________________________________________________________

16 de maio

Vai começar a grande festa de Cannes! Pelo site, dá pra acompanhar as entrevistas coletivas, o entra-e-sai dos atores e diretores e ficar com gostinho de um-dia-quero-ir. E como no cinema não tem certo ou errado, júri eclético é júri com olhar diverso, aberto, plural. Quem manda este ano é o diretor espanhol Pedro Almodóvar, auxiliado por Jessica Chastain (atriz americana), Paolo Sorrentino (diretor italiano), Will Smith (ator americano), Maren Ade (diretora, roteirista e produtora alemã), Park Chan-Wook (diretor sul-coreano), Agnès Jaoui (atriz, roteirista, diretora e cantora francesa), Fan Bingbing (atriz chinesa) e Gabriel Yared (compositor francês).

Estes são os filmes que concorrem à Palma de Ouro, programada para dia 28 de maio. Pra dar uma referência, ao lado estão filmes anteriores dos diretores correspondentes, comentados aqui no blog. Assim, dá pra clicar e saber de quem se trata e o que esse diretor já fez.

Nelyubov (Loveless), Andrey Zvyagintsev  | também de Leviatã
You Were Never Really Here, Lynne Ramsay | também de Precisamos Falar sobre Kevin
Le Redoutable, Michel Hazanevicius | também de O Artista
Hikari (Radiance), Naomi Kawase | também de Sabor da Vida,
Jupiter’s Moon, Kornél Mundruczó | também de White Dog
L’amant Double, François Ozon | também de Uma Nova Amiga, Dentro da Casa, Ricky, Potiche, Amor em 5 Tempos
The Beguiled, Sofia Coppola | também de Encontros e Desencontros, Somewhere, The Bling Ring
Happy End, Michael Haneke | também de Amor, A Fita Branca
Wonderstruck, Todd Haynes | também de Carol
Aus Dem Nichts (In The Fade), Fatih Akin | também de Soul Kitchen, Do Outro Lado
Okja, Bong Joon-ho | também de Mother
The Meyerowitz Stories, Noah Baumbach | também de O Plano de Maggie, Mistress America, Enquanto Somos Jovens, Frances Ha

Good Time, Benny Safdie e Josh Safdie
Rodin, Jacques Doillon
The Killing Of A Sacred Deer, Yorgos Lanthimos | também de Lobster
A Gentle Creature, Sergei Loznitsa
Geu-hu (The Day After), Hong Sangsoo
120 Battements Par Minute, Robin Campillo

 

FESTIVAL DE CANNES 2013: QUEM SÃO OS JURADOS

De hoje a 26 de maio, Cannes recebe a nata do cinema mundial. Mundial mesmo, porque até a escolha do júri está carregado de significado.

E de nacionalidades diferentes. Além das premiações, do tapete vermelho e de tudo mais que gira em torno das estrelas e produções, é interessante pensar nesse perfil de jurados. Afinal, são eles que escolhem o filme que ganha a Palma de Ouro e, portanto, a chancela para fazer carreira no mundo todo. Assim, quanto mais eclético e diversificado for o corpo de jurados, mais interessantes ficam os prêmios.

Entre os integrantes estão a diretora escocesa Lynne Ramsey, do arrebatador Precisamos Falar Sobre Kevin, exibido no ano passado em Cannes, o ator francês Daniel Auteuil, de filmes como Caché e Conversas com Meu Jardineiro, e a atriz australiana Nicole Kidman, de As HorasOs OutrosReencontrando a Felicidade. Da Alemanha vem Christoph Waltz, o ator de Tarantino premiado em Django Livre e Bastardos Inglórios, mas também do ótimo Deus da CarnificinaAng Lee é o representante de Taiwan, diretor de As Aventuras de Pi e vencedor do Oscar deste ano na categoria.

Também temos Vidya Balan, atriz indiana, Naomi Kawase, cineasta japonês e Cristian Mungiu, o diretor e roteirista romeno, responsável por Além das Montanhas, 4 meses, 3 semanas, 2 diasContos da Era Dourada. Para fechar a Torre de Babel, Steven Spielberg, que prescinde apresentações e é um dos ícones do cinema americano e global. Como presidente do júri de Cannes, a escolha soa especial. Parece que pouco importa se o cinema que se faz é de arte ou comercial. Fiquei com a impressão que, por um instante, os egos ficaram um pouco de lado e o cinema de qualidade é que foi privilegiado.

Vamos aguardar o andamento do evento, que já começou com classe com a exibição de O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann, que estreia no Brasil em 7 de junho.