12 ANOS DE ESCRAVIDÃO – 12 Years a Slave

Cartaz do filme 12 ANOS DE ESCRAVIDÃO – 12 Years a Slave

Opinião

Eterna dívida americana, a escravidão. Aliás, deveria ser dívida pra todo país que funcionou ou funciona desta forma. No Brasil, nem se fala. Essa história de feriado da Consciência Negra é justamente falta de consciência. Mas nos Estados Unidos parece que há algum tipo de redenção, vide o atual presidente negro. Embora passado seja passado, não se apaga. Fica manchado. Por essas e outras é que 12 Anos de Escravidão deve levar a estatueta de melhor filme no Oscar no dia 02 de março. É a minha aposta. Já levou o Globo de Ouro e o Bafta, prêmio da academia inglesa e, de todos, é o que tem o maior apelo emocional.

Já ouvi de algumas pessoas que Trapaça é um pouco cansativo; que O Lobo de Wall Street enaltece o mundo do dinheiro e é apelativo; que Gravidade não agrada a gregos e troianos. E que os outros não têm chance de ganhar, são filmes de nicho, bons mas não tão completos como aquele que toca na ferida americana – e, por que não, global? 12 Anos de Escravidão conta a história verídica de Solomon Northup, um negro livre de Nova York, que foi trapaceado e vendido como escravo a fazendeiros sulistas em 1841. Além de ser muito bem produzido, tem um apelo emocional forte e uma revisão de valores implacável. Ninguém sai ileso.

Northup escreve sua biografia e é com base nela que o diretor Steve McQueen dirige este filme. Salomon é vítima, claro, de um sistema cruel e desumano. Tenta sobreviver a todo custo, manter sua sanidade mental e física, buscar uma saída, provar que é de fato um homem livre. McQueen (também do fortíssimo Shame) coloca toda a frieza dos senhores de escravos na tela, mas sem criar um drama a parte. A história é como ela é, nada pode ser feito para mudar. A sensação que se tem é de mea culpa, de que ele nos faz engolir a amarga realidade de ser conivente com uma sociedade (como a nossa inclusive), cheia de injustiças e desigualdades. É um tapa na cara, sem luva de pelica. Fiquei sem ar, não dá pra respirar. E que, seja lá o que consigamos no futuro, nunca será suficiente.

Mas nada disso seria tão arrebatador se o elenco não estivesse na exata medida do drama. Chiwetel Ejiofor merece ser aplaudido de pé e é forte concorrente ao Oscar. Os senhores de olhares e chicotes implacáveis são fortes na figura de Michael Fassbender e Benedict Cumbaerbatch. Brad Pitt faz uma ponta rápida, mas que muda o ruma das coisas. E a escrava Lupita Nuong’o é o desespero no que sobrou de uma pessoa, também indicada ao Oscar. Portanto, time completo. Sem falar que o filme causou controvérsias mundo afora, pela tamanha violência retratada. Steve McQueen é negro e pode ser o primeiro a levar o Oscar de direção. Mas é inglês. Por que é que nenhum diretor americano fez um filme desta envergadura sobre essa dívida americana?

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