A COR PÚRPURA – THE COLOR PURPLE
Opinião
Em latim, purpura se refere a um molusco do qual era possível extrair um corante vermelho pendendo para o roxo. De tão caro, este pigmento era usado na antiguidade para tingir exclusivamente para as vestimentas imperiais e eclesiásticas. Por isso, a cor púrpura representa algo nobre, sublime e místico; está ligada ao campo metafísico da intuição e espiritualidade, símbolo de cura e transformação. Neste remake de A COR PÚRPURA, adaptado do livro de Alice Walker e uma releitura tanto do clássico de Steven Spielberg de 1985, quanto da peça da Broadway, as flores do campo roxas fazem este papel de nos dizer o quanto essa transformação é possível, mas é preciso olhar de perto pra perceber a sua presença.
A personagem da Celie é este florescer e a versão do diretor Blitz Bazawule deixa isso bem claro. Pra quem não viu o filme original, um rápido resumo: no começo do século 20, as irmãs Celie e Nettie moram com o pai abusivo no sul dos Estados Unidos. Cilie é entregue pelo pai a um homem mais velho, com quem se casa à força; Nettie é expulsa de casa e as irmãs são separadas por décadas. Celie come o pão que o diabo amassou, até perceber, com ajuda de Sofia e da cantora Shug, seu real valor.
Tudo isso pra dizer que a nova versão conta essa história e tem roupagem de musical. Se isso é um problema pra você, prepare-se. As falas não são cantadas, mas a narrativa é interrompida por cenas coreografadas e canções que trazem o universo interior dos personagens. Alonga o filme mais do que precisaria e a segunda metade tem mais ritmo . Mas isso é uma questão de gosto e fica a seu critério encarar ou não.
Mas não compare. São filmes diferentes. A releitura faz sentido quando se conecta, através do tema, com as questões que estão na pauta do dia — como foi o caso também de ADORÁVEIS MULHERES, de Greta Gerwig. O que é interessante aqui é se perguntar é se esta revisão, 40 anos depois da obra-prima de Spielberg, faz sentido diante dos avanços em relação ao racismo e à condição da mulher negra no mundo. Suaviza o drama (imperdível) que é muito mais intenso com Oprah Winfrey no papel de Sofia e Whoppi Goldberg como Cilie no original. Muito mais. Fantasia Barrino e Danielle Brooks são ótimas e trazem a marca da nova geração à história, mostrando que a conexão, a sororidade, as experiências que se cruzam ficam mais forte quando formam alinhavadas e costuradas. Esse é o simbolismo, como uma passagem de bastão que não pode ser interrompida. Aliás, Whoppi faz um ponta no filme e é essa costura, mostrando, literalmente, que renascer é sempre possível.
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