Opinião

São muitas as questões quando se fala das ditaduras na América Latina e A História Oficial vai no cerne de uma das perguntas que ficam, depois que a democracia se restaura. Qual a responsabilidade da sociedade civil nessa história? Como fica a sua conivência com o regime? Ambientado em 1983 em Buenos Aires, quando as máscaras começam a cair e as Avós de Maio se juntam à procura de seus netos, o filme do diretor Luis Puenzo diz tudo que precisa ser dito, direta e indiretamente, e ainda deixa essa pergunta que não quer calar.

Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, A História Oficial fala de Alicia, uma professora de História que ensina aos seus alunos os eventos como estão nos livros. Casada com um empresário, viveu a ditadura fazendo vista grossa para desaparecidos, mortos, torturados, acreditando em todas as histórias que lhe contavam – seu marido, o padre, os livros. Quando uma amiga volta do exílio e vêm à tona histórias sobre bebês nascidos na prisão e separados das mães, a ficha de que algo errado aconteceu finalmente cai.

Impactante, vai tecendo a malha da corrupção, da violência, da mentira e do abuso de poder que tanto marcam não só a Argentina, mas todos os países que passaram por isso. Vamos com Alicia (Norma Aleandro, também em O Filho da Noiva) que vai juntando peça por peça, até fechar o quebra-cabeça, num desfecho arrebatador.