A QUESTÃO HUMANA – La Question Humaine

Cartaz do filme A QUESTÃO HUMANA – La Question Humaine

Opinião

A Questão Humana é um filme denso e reflexivo. Dá para perceber logo nos primeiros minutos. Se você resistir à montagem noir, sombria e sistemática, insista e siga em frente. Vale a pena, faz pensar. De uma maneira nada convencional e bastante inteligente, o diretor Nicolas Klotz fala do homem, que deixou de ser humano e ético nas grandes corporações para ser máquina e processo, assim como a era em que vivemos.

Não foi nada fácil resumir a ideia do filme, acredite. Revi algumas cenas para não perder a essência do texto e das imagens. Mas confesso – e aproveito para dar a dica – que foi a entrevista com Nicolas Klotz e Elizabeth Perceval, diretor e roteirista respectivamente, que me ajudou a ter um entendimento mais profundo do filme. A análise deles é muito interessante e ajuda a retomar os diálogos e a ler nas entrelinhas. Está nos “extras” do DVD e é altamente recomendável.

O eixo da história é Simon, vivido por Mathieu Amalric (também em O Escafandro e a Borboleta), um psicólogo que trabalha na área de recursos humanos de uma empresa franco-alemã. Por exigências do mercado, ele demite metade dos funcionários, aqueles que não se encaixam no padrão da empresa. Emprega linguagem e critérios técnicos para fazer essa seleção, o que é natural em uma corporação que mais parece produzir colaboradores uniformes, como se fosse uma linha de produção (repare na cena inicial, dos executivos no banheiro). Em contrapartida, fora da empresa o clima é de euforia, emoção solta, linguagem musical expressiva, diversa e tão heterogênea como o fado, a rave, o clássico e o flamenco. Me parece uma analogia ao próprio ser humano, duo, contraditório, misto de razão e emoção.

Mas a partir do momento em que Simon investiga a sanidade mental do diretor da organização, perde o controle da situação. O que era ordem, razão e técnica transforma-se em caos, angústia e questionamento, sentimentos próprios de um ser agora humanizado, que perde a capacidade de controlar as próprias emoções ao lidar com a questão humana do outro, ao relacionar-se; que percebe que a linguagem do mundo empresarial já não é própria dos humanos, mas sim dos técnicos; que os métodos de cortar os recursos humanos da empresa se assemelham àquele usado pelos nazistas para excluir pessoas; que a escolha das palavras tem o poder de corromper e transformar um significado, sem obrigatoriamente mentir, servindo como arma de manobra de massa.

Em um determinado momento, um dos executivos diz que a “indústria é implacável” e pergunta a Simon como ele conciliaria o fator humano com as necessidades econômicas da empresa. Achei interessante. A história, como a conhecemos, também é implacável, também é regida por necessidades econômicas, assim como os regimes autoritários e os processos de massificação do ser humano. Tudo pela produção em série e por resultado. Não são essas, afinal, as palavras de ordem da nossa era?

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