Opinião

COM AMOR E DETERMINAÇÃO poderia ser a tradução literal deste título original (cafona, por sinal), que em inglês virou algo bem mais interessante Both Sides of the Blade. Sinaliza que são dois lados da mesma moeda ou uma faca de dois gumes. Seja com for, moeda ou faca, o que vamos encontrar é uma personagem que são sabe pra que lado corre, quando o que ela precisa mesmo é correr dela mesma.

Com Juliette Binoche e Vincent Lindon – dois atores de peso do cinema francês -, Claire Denis escreve uma história de Sara e Jean. Eles vivem juntos felizes há quase dez anos, até que surge François, que já viveu com Sara e será aquela terceira pessoa a desestabilizar a relação que começa radiante em algum mar translúcido. François não só é o antigo amor de Sara, mas também o melhor amigo de Jean. A história do triângulo amoroso que se repete, mas não é este o problema. Nós nos repetimos, afinal de conta.

O problema é que Juliette vem se repetindo neste papel da mulher madura, na casa dos 50, que não está tão madura assim. Sara é insegura, não sabe o que quer, mente. Ocupa aquele lugar da mulher que não se decide, que mostra uma histeria interna. Nada de novo em Sara, nem em Juliette – continua linda, inclusive – nem no formato deste filme de Claire Denis. Incomoda a atitude histérica e adolescente, de quem realmente não sabe o que quer.

Por hora, o talento de Juliette pede algo de novo. Um roteiro que possa levá-la para outra narrativa. É verdade que a atriz representa essa figura feminina independente, autônoma, capaz de se transformar e fazer o que bem entender. Mas confesso: vê-la no cinema na lamúria, na indecisão e na traição simplesmente porque não consegue encerrar suas histórias, é voltar tudo pra trás. Tem um agravante do clima de mistério que é arquitetado com a trilha sonora de suspense, cada vez que o nome de François é mencionado. Juliette tá merecendo — e nós também — uma outra história. Não entendi até agora o porquê do Urso de Ouro de direção pra Claire Denis. Você entendeu?