BARBIE

Cartaz do filme BARBIE

Opinião

Nem tudo tem que ser panfletário. Nem toda crítica tem que ter um pano de fundo sério. Nem tudo precisa suscitar reflexões. Em BARBIE, o esperado filme de Greta Gerwig, você escolhe enxergar com lentes mais ou menos objetivas. Se escolher encarar os três atos do filme como quem passeia pelos mundos da boneca, o mundo real e aquele que seria “o caminho do meio”, fique à vontade. Mas se sua escolha for ler nas entrelinhas, vai se deparar com referências agridoces no roteiro de Greta e Noah Baumbach, vai facilmente projetar o comportamento humano naquele universo cor-de-rosa e, principalmente, vai se divertir!

Bom humor aqui é tudo. Ele é a lente pra chegar aos meandros explícitos da programação mental do mundo em favor do patriarcado; ele é a lente para o diálogo do filme com as várias gerações de mulheres. Greta acerta no tom e surfa na onda levando a Mattel junto — que, claro, não sejamos ingênuos: a empresa topa ironizar a própria postura gerando marketing, que gera venda, que gera lucro. E tá tudo bem. Reforça ainda mais o nosso lugar de privilégio como espectadores: construímos o filme que nos diz respeito, a partir da obra entregue.

Tudo isso pra dizer que deixo aqui algumas informações de bastidores e convites a reflexões que podem ajudar nessa trajetória:

1. Vindo de Greta Gerwig, co-autora junto com Noah Baumbach, já temos uma indicação de que não estamos no campo do fútil, nem do ponto-sem-nó; pela trajetória da diretora já podemos desconfiar do tom que vem por aí;

2. Refrescando a memória: Baumbach é diretor de História de um Casamento, Enquanto somos jovens, Frances Ha — um cinema independente e autoral, que não tem nada a ver com algo “plastificado”;

3. Greta é diretora de Adoráveis Mulheres, Lady Bird e a principal atriz dos filmes de Baumbach — é sensível a beça aos assuntos feministas, sem jamais perder o humor e as referências ao cinema que mexem com o nosso imaginário;

4. Ambos têm um texto profundo, absolutamente calcado na realidade nua e crua, na experiência. Sem firulas, nem mi mi mi; é uma provocação é tanto;

5. Ao bater o olho em Margot Robbie como Barbie, a gente já torce o nariz porque parece afetado. Pensemos: o que a Barbie representa? É um bom começo, porque o buraco é mais embaixo..

6. Por último, mas não menos importante: o que a Mattel pensa disso?! Aliada ou inimiga de Greta nesta crítica agridoce? Sim, porque o marketin foi feroz e até faltou rosa no mundo.

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