DEUS É MULHER E SEU NOME É PETÚNIA – God exists, her name is Petrunya

Cartaz do filme DEUS É MULHER E SEU NOME É PETÚNIA – God exists, her name is Petrunya

Opinião

No título original, Deus não é mulher, ele apenas existe. Em português, a escolha é por ressaltar que, nesse mundo machista, justificado pelas religiões sim, senhor, Deus pode ser de qualquer cor, qualquer sexo, qualquer procedência. E não depende de aprovação de ninguém. Aliás, o filme pergunta: que regras são essas impostas pela religião dos homens?

Vencedor do Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Berlim em 2019, Deus é Mulher e Seu Nome é Petúnia separa o que é de Deus, o que é dos homens. E, neste caso, deixa bem claro qual a fatia das mulheres nessa suposta brincadeira. Em termos – porque cair no rio gelado, em pelo janeiro, na Macedônia do Norte, não é pra qualquer um. Mas é um ritual, o padre garante sorte e prosperidade pra quem conseguir o feito de pegar a cruz de madeira jogada nas águas geladas e ninguém contesta essa bênção. Não que sejam todos fiéis devotos – mas no vilarejo, pertencer à comunidade religiosa é parte do status e define quem você é, com quem se relaciona, e se merece respeito. As mulheres ficam de fora da tradição, mas Petúnia está passando pela margem do rio naquela fatídica hora, age por instinto, pula de roupa na água e acha a cruz. O circo está armado. Homens inconformados com a bênção na mão de uma mulher.

Machista e irredutível, a sociedade fica estremecida. Amedrontada e humilhada, Petúnia restaura sua coragem e dignidade sendo firme ao seu direito de ficar com a cruz – amparada pela jornalista, também mulher, que é capaz de fazer as perguntas certas no filme, na hora certa. Forte o impacto do afeto que vai chegando à medida que Petúnia percebe que ter a cruz fisicamente para ela não quer dizer nada. Tem é que se livrar da sua cruz interna, da culpa que carrega por não conseguir namorado nem emprego, da postura de reforçar sua inferioridade. Arrebatador.

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