GOMORRA

Cartaz do filme GOMORRA

Opinião

Baseado no livro homônimo de Roberto Saviano, vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes 2008, Gomorra não é um filme para qualquer hora. Fala da realidade cruel, nua e crua, da periferia napolitana. E assim é: não há espaço para romantizar chefões à la Corleone, ou criar narrativas por assim dizer “poéticas” através das lentes de um fotógrafo. Gomorra cai como um documentário, no envolvimento de gente simples e mal vestida, nos garotos sem rumo, nos trabalhadores sem dinheiro, nos empresários corruptos, envolvidos até o último fio de cabelo com a máfia de Nápoles.

De Nápoles em termos – porque pelo filme fica subentendido que as ramificações estão por toda a parte, cruzam os oceanos, chegando até aos vestidos das atrizes famosas de Hollywood. Desde garotos que enfrentam facções criminosas, gente que comercializa lixo tóxico, costureiro que compactua com alta-costura ilegal, intermediários que pagam as famílias de mafiosos tirados do circuito a jovens que são aliciados para o crime. Mas sem glamour. Sem música ícone. Sem casarão, gente bonita, roupa estilosa. É tudo bem sombrio, pobre, cenário angustiante. A realidade.

Depois do filme, dá pra imaginar a riqueza de detalhes do livro de Saviano. Deve valer a leitura como documentário de uma situação extrema e praticamente sem volta. Depois de ter investigado a fundo o andamento da máquina de Camorra, a máfia napolitana, Saviano é prisioneiro de sua própria denúncia. Os mafiosos juraram matá-lo – a data limite era 31 de dezembro de 2008. Não aconteceu. Segundo ele, em entrevista recente a um jornal paulistano, é só uma questão de tempo. Mas confessa que já lhe roubaram a vida – perdeu amigos, família, casa, a liberdade de ir e vir. Seus seguranças são hoje seus melhores amigos. Ele bem sabe que a máfia não perdoa.

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