KLONDIKE: A GUERRA NA UCRÂNIA – KLONDIKE

Cartaz do filme KLONDIKE: A GUERRA NA UCRÂNIA – KLONDIKE

Opinião

Uma mulher grávida, prestes a dar à luz ao seu primeiro filho. A guerra explode lá fora, deixa o ambiente tenso e inseguro. A casa não tem parede. Mas há um fio de esperança de que seja possível reconstrui-la quando tudo terminar. Com este panorama sombrio e atual, KLONDIKE: A GUERRA NA UCRÂNIA, não é sobre a guerra de hoje, mas sobre a de 2014. O que dá quase na mesma, porque também se aplica às guerras múltiplas e infinitas que dilaceram a alma de quem nela tem que achar uma maneira de sobreviver.

Onde é que eu estava quando este filme me escapou no Festival de Berlim deste ano? Assistindo a outros 25 filmes, é verdade. KLONDIKE, da cineasta Maryna Er Gorbach, ganhou o Prêmio do Júri Ecumênico na Berlinale, também foi premiado em Sundance e é daqueles cujo desfecho é capaz de derrubar qualquer argumento sobre a racionalidade humana.

Irka (Oksana Cherkashyna) e Tolik (Sergey Shadrin) moram em Donetsk, na zona rural próxima à fronteira da Ucrânia com a Rússia. É uma área disputada entre separatistas, apoiados pelos russos, e nacionalistas. Estamos em 2014, na Guerra de  Donbas  — e, enquanto a guerra acontece, um avião com civis é abatido, a casa é bombardeada, a comida fica escassa, soldados vão e vêm invadindo, ameaçando, tornando a vida do casal ainda mais surreal e absurdamente violenta.

E não se trata só de violência física. Ela está impressa também na casa sem parede, no carrinho de bebê destroçado, na única vaca que não dá mais leite porque também tem medo, no barulho ensurdecedor, no corpo de um passageiro ainda preso na poltrona. Enquanto a vida cotidiana tem que continuar por uma questão de sobrevivência, juntando os destroços de uma casa interna em ruínas, o panorama da guerra acontece nas diversas camadas. Instinto de sobrevivência protagonizado em Irka, que vai gerar vida, enquanto os interesses de cada um dos players deste jogo de guerra, estão na esfera da disputa por poder.

O termo “Klondike” se refere à região na fronteira entre Canadá e Alasca, conhecida pelo garimpo no final do século 19 — não por acaso está relacionada à “corrida do ouro”, na guerra por riqueza e território. Estamos neste lugar novamente — se é que alguma vez saímos dele. O lugar da guerra, sempre permeada pela força feminina absolutamente irrefutável.

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