MINHA TERRA, ÁFRICA – White Material

Cartaz do filme MINHA TERRA, ÁFRICA – White Material

Opinião

 “Cabelos loiros demais trazem azar; seus olhos azuis são problemáticos. É algo que desejamos destruir.”

“Seu filho nasceu aqui, mas esta não é a sua terra.”

– prefeito da cidade africana, dando o recado à francesa Maria Vial

 

White Material. Este é o título original e eu bem que queria que a tradução não fosse tão livre. A palavra ‘branco’ faz referência ao ponto principal da trama: a raça branca, colonizadora, pertence à África? Pode sentir-se parte do continente negro? Para os seus habitantes originais, a resposta é não. Os cabelos loiros são sinônimo de azar, os olhos azuis, significam problemas. Nesse país africano sem nome (nem precisa, representa vários deles em guerra civil e total intransigência), a família fazendeira branca não pertence à terra africana quando o que conta é a origem, a cor da pele, a força, as armas, a intimidação.

Quando explode a guerra civil entre forças milicianas do governo corrupto e forças rebeldes, o trabalho, a organização, a produção, o cuidado com a terra e com o ser humano se torna descartável. Prepondera o medo e a violência. A francesa Maria Vial (Isabelle Huppert) resiste, mas não tem mais como colher café. O exército francês foi embora, os empregados da fazenda fugiram, o medo provoca o silêncio e a conivência – ou a morte, para quem enfrenta. Minha Terra, África coloca lado a lado a coragem e a responsabilidade de uma única mulher em terra negra e machista, contra a covardia daqueles que pegam em armas, inibem, torturam e matam. As cenas do exército de crianças rebeldes, com armas em punho e espírito deturpado, são emblemáticas de uma África que recrutou sua infância em prol da ganância adulta. Cenas incríveis – e desoladoras.

O relato de Maria Vial sobre sua trajetória e seu fim é claro no seu semblante. De esperançosa e trabalhadora (aliás, as cenas da lida com o café são até poéticas), à amedrontada e esgotada, Maria não consegue enxergar a realidade e o perigo. Simboliza o material branco que carrega o estigma da colonização sem progresso, desenvolvimento, planejamento. E seu ex-marido (Christopher Lambert), representa os acordos escusos, o oportunismo. Com conflitos familiares extremos, jogo de interesses, falta de perspectiva e de mudança de visão, o filme é um impressionante relato de uma África que pouco conhecemos e pouco conseguimos imaginar. De tudo que se ouve e se lê sobre as crianças recrutadas por forças rebeldes para matar e morrer, aqui dá para olhar no olho desses pequenos grandes criminosos e sentir a extensão do caminho que esses povos têm que percorrer para tentar mudar alguma coisa. Se é que há um caminho..

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