O ABRIGO – Take Shelter
Opinião
Cheguei a ficar aflita com a agonia intensa de Curtis (Michael Shannon). Dá para sentir o medo de que a família se machuque e a angústia de não poder resolver o problema de uma maneira mais fácil. Acho que esse é o ponto forte de O Abrigo, melhor filme da Semana da Crítica do Festival de Cannes em 2011. A atuação de Shannon garante que o lado humano perturbado, e não o lado da natureza que atormenta (talvez por ser tão atormentada), seja o mais impressionante. Fico me perguntando o que a nossa cabeça é capaz de produzir, imaginar e acreditar, a ponto de criar supostas realidades, capazes de mudar absolutamente toda a maneira com que nos relacionamos com o mundo e com as pessoas.
Com Curtis foi assim. Casado com a bela e supercompetente Samantha (Jessica Chastain, também em A Árvore da Vida, Histórias Cruzadas), o casal tem um relacionamento amoroso e dedicado, embora tenham que lidar com as dificuldades trazidas pela surdez da filha, com a falta de dinheiro e com os constantes tufões que assolam a região.
O que faz parar para pensar, se você é daqueles que veste a carapuça – é o fato de nos projetarmos na loucura do personagem. Quantas vezes nos deixamos paralisar pelo medo de algo que, na realidade, não é tão importante, ainda não aconteceu ou na verdade nem existe? Obcecado pela possibilidade de ser atingido por um daqueles furacões arrasadores, Curtis investe seu tempo, dinheiro (o que lhe resta) e energia na ampliação e melhoria de um abrigo subterrâneo. Envolve a família, os amigos e a si mesmo de uma maneira assustadora. Mas insisto, é muito mais assustadora do ponto de visto da mente humana, sem que o filme apresente questões catastróficas ou apocalípticas. Um desfecho instigante, que me deixou com a pulga atrás da orelha. Sobre quem estava, afinal, com a razão.
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