Opinião

Com conhecimento de causa, Boris Becker faz mea culpa e dá um valioso conselho ao filho, quando este pergunta o que o pai aprendeu com a sua história: “tome conta da sua própria vida”. Ou seja: tenha as rédeas nas mãos e não deixe que mais ninguém tome as decisões por você.

E, convenhamos: parece básico, mas o erro é recorrente quando observamos a vida meteórica de jovens profissionais do showbiz, do esporte, da mídia. Talentos jovens, muito dinheiro e rápido, e olhos vorazes de empresários interessados em abocanhar uma parte bem maior do que lhes cabe desse bolo.

Assisti a O MUNDO CONTRA BORIS BECKER no Festival de Berlim e recomendo fortemente que você também veja. Becker é um ícone e serve como exemplo inclusive pelas besteiras que fez na vida. O diretor Alex Gibney estrutura seu documentário com base em duas entrevistas com o ex-tenista: em 2019, quando começam os problemas com a justiça, e em 2022, dias antes de ser condenado por fraude e sonegação fiscal no Reino Unido. E divide em dois episódios: o triunfo e o desastre.

Os títulos são auto-explicativos, mas nem por isso óbvios no conteúdo. O mix de incríveis imagens de arquivo de Becker jogando, dos seus depoimentos, das entrevistas de tenistas como Björn Borg, John McEnroe e Novak Djokovic e com seu ex-treinador Ion Tiriac compõem os episódios de uma maneira tão envolvente que ficamos fascinados com a história. Becker é o exemplo perfeito de talento precoce, campeão nato e presa fácil para oportunistas de plantão. Achando que a bonança da fama e do dinheiro não acabaria nunca, gasta sem medida e deixa sua fortuna nas mãos do fraudulento técnico-empresário. Não só acabou a grana, como deu cadeia.

Documentários assim são um alento diante de tantos feitos com o viés da auto-propaganda. Para os amantes do tênis e do esporte, para fãs de Boris Becker, mas principalmente para quem observa o comportamento humano com espanto. Becker é fruto da desvairada e inconsequente construção da sociedade das imagens em bases frágeis. Tudo pelo consumo e pelo dinheiro que isso gera — uma máquina perversa que só gira porque uma multidão de pessoas consome a vida dos outros.