O VENCEDOR – The Fighter

Cartaz do filme O VENCEDOR – The Fighter

Opinião

O grande argumento a favor do esporte vai muito além do desenvolvimento físico ou da performance vencedora. Quem valoriza a prática esportiva enquanto elemento importante para o desenvolvimento humano está falando da sua importância como metáfora da vida: é na sua prática que o atleta tem que aprender a lidar com a vitória e com a derrota, ser persistente e não desistir na primeira dificuldade, conviver com a equipe de forma harmônica, lidar com as diferenças e dar a sua contribuição ao time. Um ensaio da vida, eu diria. É só sobrepor as duas vivências e veremos como elas se repetem. O Vencedor mescla as duas experiências, do esporte, da competição com a vida e suas dificuldades. Baseado em uma história real, o filme faz a pergunta que não quer calar: estamos somando com virtudes ou anulando com diferenças? Cada família sabe do seu, mas quem não tem que lidar com questões adversas, que jogue a primeira pedra.

Difícil saber quem é o vencedor do filme. Só se descobre isso no final. Durante quase o tempo todo acompanhamos a trajetória e as escolhas de dois decadentes irmãos pugilistas. Dicky (Christian Bale) é o mais velho, já não luta mais, deixou escapar algumas chances que teve no esporte e optou pelo crack e pelo vício; Micky (Mark Wahlberg) aprendeu o que sabe com o irmão Dicky, que é seu treinador, e não consegue andar com as próprias pernas, nem quando vê o barco afundar. Coordenando essa complicada dinâmica está Alice (Melissa Leo, também em 21 Gramas e Rio Congelado), a mãe controladora que tem debaixo da sua saia mais sete filhas improdutivas e palpiteiras, muita gente para sustentar e uma visão oportunista e amorosamente distorcida das relações.  Dicky é persuasivo, Micky, submisso e Alice, centralizadora. Até que surge alguém de fora, Charlene (Amy Adams, também em Julie & Julia, Um Noite no Museu 2, Dúvida), que olha para o cenário e rapidamente identifica onde está a trava de toda a relação e das vidas que dependem dela.

Lutar contra uma situação há muito acomodada custa esforço e persistência. O boxe é pano de fundo para a luta pela identidade individual e pela reformulação das relações entre as pessoas. A chegada de Charlene incomoda, já que traz uma visão realista e nova do que a família entendia como correto. Incomoda porque causa sofrimento. Não que o boxe não seja bem feito e importante no filme. É as duas coisas, mesmo para quem não aprecia o esporte em si – como eu. Mas o mais importante é a dificuldade de convivência entre as pessoas de uma família e o delicado que é construir uma dinâmica que permita que o positivo de cada um venha à tona. Deixar que venha o negativo é fácil – basta conviver.

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