PERDER A RAZÃO – À Perdre la Raison (Mostra de Cinema SP)
Opinião
Esta Mostra está cheia de filmes que competem com O Palhaço, de Selton Melo, pela vaga na seleta lista da Academia de Hollywood para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013. Perder a Razão é o concorrente da Bélgica, No, do Chile, Barbara, da Alemanha, Além das Montanhas, da Romênia. E durante a semana publicarei outros mais. Bom esse movimento, assim chegamos na premiação com mais conhecimento de causa e menos curiosidade – é sempre uma categoria que me fascina, pela diversidade de olhares.
Outro comentário um pouco deslocado do filme, mas que vem bastante a calhar. Por que é que as distribuidoras e assessorias de imprensa (ou quem quer que seja responsável pelas sinopses) teimam em contar o que acontece no final? Ao ver a sinopse do filme no site da Mostra, ficamos sabendo do tom do final do filme. Não leiam. Aliás, nem precisa. Para um bom espectador, meia palavra basta. Ou melhor, três. O título do filme já denuncia a perda da razão em algum momento, absolutamente em comunhão com o andar do roteiro, com a construção (e destruição) da personagem de Murielle (Emilie Dequenne). Certo, entendo. Mas fica chato ler uma sinopse que conta, como se não fôssemos capazes de entender e sentir as matizes, as sutilezas, o silêncio, o diálogo proposto no filme. Pronto, falei!
Agora sim, o filme. Murielle e Mounir (Tahar Rahim, também em O Príncipe do Deserto, O Profeta) se apaixonam e se casam sob a aprovação de Pinget (Niels Arestrup, também em O Profeta, Cavalo de Guerra, A Chave de Sarah), pai adotivo de Mounir. Além de acolher o casal, é Pinget quem banca a vida confortável, a criação dos filhos e os trâmites da família muçulmana de Mounir no Marrocos, que enfrenta problemas típicos de imigração. Com o tempo, o que era conveniência e parceria, torna-se privação e perda da individualidade. Mais que isso: transcendo o incômodo físico e se mistura ao emocional, à diferença cultural, à falta de diálogo, à interferência, à dificuldade de criação dos filhos.
Perder a Razão é sutil, não é óbvio. Muito embora o potencial dramático vá crescendo, à medida que desaparecem a satisfação. Claro que isso não se aplica ao momento do nascimento do filho homem. Não que seja um filme arrebatador, mas é um forte drama pessoal, em que a maternidade e o tratamento dado à mulher nas diferentes culturas vem à tona de uma maneira singular. Foi selecionado para a categoria Um Certo Olhar (Un Certain Regard) de Cannes. Faz todo o sentido.
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