PROPRIEDADE
Opinião
Tensão no ar o tempo todo em PROPRIEDADE, de Daniel Bandeira. Tensão entre classes sociais, que não se comunicam, que precisam saldar uma dívida, fazendo justiça com as próprias mãos. Filme de gênero, como a gente diz. Terror, suspense. Lembra a tensão de “Parasita”, em que o jogo de forças opostas da luta de classes ganha uma escala inimaginável, mas condizente com a dívida. Aquela que não foi paga.
E foi silenciada. Teresa mora em Recife, está traumatizada por causa de uma violência sofrida na cidade e vai visitar sua fazenda com o marido. Chegando lá, o que era sua zona de conforto está em polvorosa, com os trabalhadores revoltados, dispostos a lutar pelos seus direitos quando ficam sabendo que a propriedade será vendida. O levante está armado quando percebem que trabalharam a terra a vida toda, mas não têm direito a nada. Devem ir embora, mas decidem lutar.
Teresa se refugia no carro e é de lá que vemos a tensão atingir o ápice. Carro blindado aparta o rico do pobre; carro blindado separa o proprietário dos outros que não pertencem aquele lugar de privilégio; insulfilme inviabiliza os já invisíveis, torna trabalhadores sem voz, sem direitos na sociedade. Não há diálogo entre quem manda e quem ocupa o lugar histórico da obediência; Teresa e os trabalhadores se comunicam com ações, com temor, com os gestos universais do medo e da ameaça.
PROPRIEDADE questiona o privilégio e não-discussão sobre o que é tomado como certo e conveniente pela elite. Colonização, escravidão, racismo são discutidos aqui com o terror que o tema exige pra torná-lo, enfim, visível. Já que teimamos em não enxergar. Impressionante.
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