SERVIDÃO
Opinião
Renato Barbieri dirigiu PUREZA e ali já tem a semente de SERVIDÃO. Pureza, com Dira Paes, é inspirado na história real de uma mãe que mora no interior do Maranhão e toca uma pequena olaria junto com seu filho. Um dia ele parte para uma “oportunidade” de trabalhar no garimpo na Amazônia e não volta mais. Assim como muitos que não têm trabalho em suas cidades acreditam na ladainha de latifundiários e empresários que prometem condições dignas de trabalho, este jovem é submetido a condições análogas à escravidão em troca da alojamento precário, comida indigesta e salário zero.
SERVIDÃO registra o Brasil que serve a elite até hoje. Denuncia as estruturas de poder se perpetuando no não-interesse em uma sociedade mais justa e igualitária. Uma elite que ainda acha que os a classe mais pobre deve servi-la e que já faz a sua parte dando emprego, mesmo que desumano.
As relações servis, sedimentadas na colonização e na escravidão, perpetuam-se com alguns avanços, é verdade. A denúncia está aqui nos inúmeros locais de trabalho em que não há respeito aos direitos humanos, muito menos trabalhistas. Aliás, SERVIDÃO dialoga com PROPRIEDADE, ótimo longa que também traz esta realidade.
Mas o que chama a atenção no documentário de Barbieri é o tom que ressalta a mentalidade de manutenção não só de privilégios, mas também do esquema de enriquecimento perpétuo de quem já tem muito. Como dia Barbieri, o filme mostra como opera a “mecânica escravagista contemporânea”. Nos confins do Brasil, ela está “escondida”; no dia a dia das grandes cidades, ela está evidente na própria configuração urbana. Só não vê, quem não quer.
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