SHAME
Opinião
Shame não é para qualquer dia, nem para qualquer pessoa. É daqueles filmes aflitivos do começo ao fim, intensos na complexidade humana, na dificuldade de relacionamento consigo mesmo e com os outros, na carga familiar negativa e nos estragos que ela imprime na vida para sempre. Passei o filme torcendo para que o excelente Brandon Sullivan (Michael Fassbender, também em X-Men – Primeira Classe, Bastardos Inglórios) conseguisse virar a página da vida, abandonar o vício por sexo e ser diferente, ou melhor, mais parecido com todas as outras pessoas. Solitário, executivo de sucesso, depressivo, angustiado, Brandon parece ter atingido o extremo da solidão. Imagino que não dê para ir além do fundo desse poço em que ele está. O sexo preenche fisicamente seu dia e esvazia cada vez mais sua vida de relações reais, humanas e verdadeiras.
Nem a chegada da sua irmã Sissy (Carey Mulligan, também em Educação, Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme, Não Me Abandone Jamais, Inimigos Públicos, Drive) resolve. Pelo contrário, tira a estabilidade dessa vida pervertida, do profissional bem sucedido, das lembranças e do passado adormecido e traz à tona ainda mais descontrole.
O talento de Fassbender está em ser capaz de deixar claro, através de pouquíssimas palavras e um olhar muito forte e marcante, que aquela foi a maneira que ele encontrou de seguir vivendo. Que se a opção fosse – como queria Sissy – recordar, elaborar o passado, mudar o estilo de vida, relacionar-se com as pessoas e consigo mesmo, não haveria como continuar. Deixa claro com uma lágrima, muitas atitudes controversas e muito sexo, que não é má pessoa, mas que veio de um lugar ruim. Sua atuação é formidável, até quando conversar lhe parece algo do outro mundo e absolutamente desnecessário. É preciso despir-se de preconceitos, porque a compulsão por sexo ocupa o filme todo, de maneira vergonhosa, prisioneira, explícita, fria, econômica e visceral. O vício tira de Brandon toda a sua liberdade de viver, assim como tantas outras drogas. Emoção mesmo fica por conta da cena em que Sissy canta New York, New York. Um momento de sentimentalismo genuíno, em meio a tantos distúrbios e desajustes.
Nos cinemas: 16 de março
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