SILÊNCIO – Silence

Cartaz do filme SILÊNCIO – Silence

Opinião

Martin Scorsese quase virou padre. Eu não sabia. Mas fazer Silêncio, como ele fez, só tendo, realmente, uma visão e uma vivência diferenciadas da fé católica. É intenso demais pra ser feito por alguém que só passe raspando pelos dogmas e mistérios da religião e que se ancore, simplesmente, nos lugares comuns. Scorsese vai lá nas profundezas, questiona, escancara as dúvidas e as crenças da religião. Deixa nas telas um recorte maravilhosamente realizado e tocante da obra do japonês Shusaku Endo.

Silêncio é a história de um homem que aprende – tão dolorosamente – que o amor divino é mais misterioso do que imagina; que Ele deixa muito mais aos caminhos humanos do que percebemos; e que Ele está sempre presente, mesmo em seu silêncio”, diz o diretor no prefácio do livro que deu origem ao filme, que ele levou 20 anos para executar, desde a primeira leitura. Conta história dos missionários jesuítas portugueses do século 17 que, enviados ao Japão, tiveram que enfrentar a inquisição, a perseguição e foram obrigados a apostasia, ou seja, renúncia da fé católica.

Com uma crueldade atroz, Silêncio traz a figura daqueles que preferiram renunciar a morrer, assumindo o papel de traidores, assim como o apóstolo Judas. Lembrei o livro do escritor israelense Amos Oz Judas, em que ele provoca esse reflexão, trazida também por Endo: qual a função de Judas na perpetuação da fé católica? Como diz Scorsese “o escritor entendeu que, para que o cristianismo viva, se adapte a outras culturas e outros momentos históricos, é necessária não apenas a figura de Cristo, mas também a figura de Judas”. Verdade. Remete também a outra obra, Homens e Deuses, de Xavier Beauvois, em que o exercício da fé os leva até as últimas consequências. Filme belíssimo, profundo e único, esse Silêncio.

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