SOUNDTRACK

Cartaz do filme SOUNDTRACK

Opinião

Teve um jornalista que perguntou ao Selton Mello sobre essa contradição que o filme traz entre a arte (no caso, a fotografia) e a ciência (protagonizada pelo trabalho dos cientistas na base de pesquisa onde se passa o filme). Selton logo disparou que o filme fala também das amizades, do entendimento do outro e do mundo. Ele faz o papel de Cris, um fotógrafo que pede permissão para passar uns dias em uma base de pesquisa polar para fazer selfies, enquanto escuta a uma playlist previamente selecionada para esse projeto. Portanto, a música traz sensações, projetadas nas fotos que ele faz dele mesmo.

No meio de cientistas em missões que não são autocentradas, mas voltadas para o bem-estar e conhecimento da humanidade, Cris precisa se achar. Já tem um estranhamento logo de cara. A gente percebe que ele se distrai, não segue as regras do local – e corre riscos. Perde-se em pensamentos e sensações ao fazer as fotos e cada espectador percebe isso como quiser. Gosto de filme assim, que deixa em aberto essa construção de quem foi, quem é e quem poderia vir a ser esse tal Cris. Ainda deixa algumas pontas soltas: sua mãe é cega, ele é fotógrafo, ela nunca viu o trabalho do filho, ele não se sente prestigiado, tem baixa autoestima. Uma gama enorme de situações-conflito pra resolver.

Como ator, Selton se identifica com Cris na construção da sua arte. “Mas Cris enlouquece, acha que não faz seu trabalho bem”, diz o ator. “É aqui que eu me separo do personagem, porque ele não acredita no poder transformador da arte e se perde; eu acredito.”

Soundtrack é essencialmente sensorial – apesar de ter essa questão forte sobre a percepção do mundo, a ciência, os grandes feitos, o humano no mundo desumano. Fala da visão e da não-visão; da audição, do tato, do frio, das sensações, do vento, a solidão, o companheirismo. É preciso aguçar os sentidos pra sentir isso de fato. “Sim”, disse Selton diante da minha colocação. “É um audiovisual, permite muitas possibilidades de sentidos.” Disse tudo, o Selton. Por isso que tem até exposição com as fotos do Cris e a trilha sonora do filme no MIS-SP, pra gente, que ficou pensando no que esse personagem representa, quem foi e pra onde vai, tentar entender um pouco mais. E entrar de vez no frio do filme.

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