THE DEVIL’S BATH – Des Teufels Bad

Cartaz do filme THE DEVIL’S BATH – Des Teufels Bad

Opinião

Especial para a 74ª Berlinale

THE DEVIL’S BATH se passa no século 18, num povoado austríaco. Distante do tempo, mas intimamente conectada com a atualidade. Passei o filme absorvida com o drama existencial desta mulher e de tantas que se sentem aprisionadas por regras, padrões, dogmas religiosos e expectativas sociais. O filme austríaco é tão sufocante quanto é sufocante ter que ser quem não te pertence.

Agnes mora neste vilarejo rural, se casa como é esperado por todos e reza pra conseguir dar um filho ao marido, ser boa mãe e esposa. Mas antes da festa e de a conhecermos mais intimamente, uma mulher comete um crime. É este crime que liga Agnes à realidade de quem não quer mais encarar a vida. Acompanhamos os dias desta jovem mulher devota, como são todos por ali. Devoção e obediência a Deus e seus mandamentos. E ao padre, que reforça que suicidas não têm direito à enterro e vão, portanto, arder no fogo do inferno. Isso são palavras minhas, já que o conhecimento prévio de mundo de um ensinamento religioso calçado na punição leva pra este lugar das trevas.

Baseado em pesquisa histórica, o filme fala da saúde mental colocada em risco pela pressão, pela melancolia, pela depressão. Registros mostram que pessoas suicidas cometiam crimes naquele tempo, nesta região da Áustria, para em seguida confessarem o crime, pedirem perdão ao padre, serem absolvidas do pecado e condenadas à morte. Assim, seriam executadas em praça pública e se livrariam da vida que tanto as atormentava. A execução era em praça pública, claro, com todos os habitantes da vila em celebração pela eliminação daquela pessoa inadequada aos padrões ali impostos. Agnes tem uma intensidade que dialoga com a agonia contemporânea. A ponte com a atualidade foi imediata, mesmo se o panorama era de uma aldeia nas montanhas austríacas 300 anos atrás. 

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