THE WAY
Opinião
Há algum tempo, publiquei aqui no Cine Garimpo um comentário sobre Onde está a Felicidade, de Carlos Alberto Riccelli- aliás, um comentário ardido, filme fraco… Não só não gostei do filme, como achei um grande desperdício, já que o Caminho de Santiago de Compostela é em si um cenário, um panorama, uma proposta, uma história incrível, que pode ser mostrado sob diversos ângulos. Não vou me estender naquilo que não gostei, portanto, recomendo que não percam tempo com a Bruna Lombardi do filme acima. Mas se tiverem oportunidade de assistir a The Way (O Caminho, tradução livre, porque não foi lançado no Brasil mas tem no AppleTV), assistam. É singelo, simples e transmite uma faceta importante da peregrinação pelo caminho até a cidade de Santiago de Compostela, na Espanha.
The Way, ou El Camino como dizem os espanhóis, é percorrido pelos peregrinos que saem de diversos lugares da Europa, para chegar à catedral de Santiago há mais de 1000 anos, onde estão enterrados os restos mortais do santo. Mais do que a chegada em si, o grande desafio é o “durante”. O caminho é reconhecidamente frequentado por pessoas que querem revisar suas vidas, ter um momento de distanciamento que o cotidiano não permite e muitas vezes partem sozinhos na empreitada. Segundo foi dito em The Way, ninguém faz o caminho por alguém, mas faz por si mesmo. E essa é o grande fator de mudança.
Quem parte em peregrinação, sem ser exatamente religioso ou praticante, é Tom, pai de Daniel, que morreu ao começar o caminho. Oftalmologista da Califórnia, Tom acredita ter uma boa vida, estável e sem grandes surpresas. Acredita ter a vida que escolheu. Seu filho, no entanto, vive viajando pelo mundo, sem rumo e sem endereço, e principalmente sem se preocupar com o futuro. Com visões tão opostas, é de se imaginar que as duas formas de vida entrem em conflito regularmente. Mas Daniel morre e Tom viaja para a Espanha para pegar os pertences do filho. Ao chegar na cidadezinha francesa de St Jean Pied de Port, Tom muda de ideia. Sente de alguma maneira que precisa fazer o caminho e jogar as cinzas do filho pelo trajeto.
Durante os cerca de 800 km, Tom encontra-se com um holandês que precisa emagrecer, uma canadense que vive “brava” e um escritor irlandês que não tem escrito nada nos últimos tempos. Cada um com seus conflitos e questões para serem resolvidas internamente, partem pelo caminho de uma maneira simples, despretensiosa. Com cenários lindos e diálogos sensíveis, The Way mostra pontos importantes sobre a amizade e o respeito e traz algo interessante sobre o que eu imagino ser o trajeto. Simplicidade, reflexão, natureza, escolhas.
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