Opinião

O que a gente espera de ESPERANDO BOJANGLES é romance, aventura, dança e alegria — algo que a vida apresenta, mas nem sempre. Ou só às vezes? O que começa com comédia e movimento, muda de tom no meio do caminho e nos choca. “Mas assim é a vida, imprevisível”, disse o diretor Régis Roinsard, quando eu pedi que falasse dessa ruptura de tom do filme, quando ele esteve no Brasil para apresentar o filme no Festival Varilux. “Num momento estamos contentes e de repente tudo muda. Me interessava falar sobre isso”, disse ele.

De fato, quando Camille e Georges se conhecem numa festa nos anos 60 e dançam ao som da canção Mr. Bojangles, a gente só vê alegria. Assim vamos nesta história de amor, até que algo muda e transforma a vida deles pra sempre, com o tema da saúde mental como pano de fundo. “Eu sempre tive medo de sofrer uma doença mental e me interessava falar das questões psiquiátricas”, disse ele. “Nos anos 1960, o tratamento era feito através da força, mas descobri, através de pesquisa e muita conversa com pessoas do meio e parentes de vítimas de doenças psiquiátricas, que a cura só vem através do amor”.

E o amor é algo que permeia o filme todo e é ele que dá o tom. Do começo ao fim. Aliás, falando do fim, é o tipo de filme com final aberto, que cada um constrói como bem entende o seu próprio desfecho. Perguntei ao diretor como é o fim que ele pensou para o filme. Elegantemente ele me voltou a pergunta e disse que eu estava livre pra construir o desfecho que eu quisesse. E você também pode imaginar algumas possibilidades e isso faz o filme ter mais poesia.

E mais dança também. E não só no sentido literal, mas naquele sentido de “dançar conforme a música”. Assim como o personagem da música Mr. Bojangles — que fala de um mendigo que tenta ver a vida sempre do lado positivo, e quando seu cachorro morre ele decide passar a vida dançando — o filho do casal deixa bem claro que entendeu a mensagem: é preciso saber dançar e seguir em frente.